sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Férias das férias

Paraty-Mirim



Conclui que as férias também dão trabalho!
Tem que abastecer, dirigir, se instalar num novo lugar.
Tem que manter esse novo lugar limpo.
Tem que passar um monte de protetor, ir à praia, passear de barco, andar na trilha.
Tirar a areia do pé, fazer compras, tirar dinheiro.
Passar calor, lidar com a chuva.
Jogar baralho, dominó, taco, frescobol.
Ler, ler, ler.
Ficar na rede.
Ficar na areia, fugir do sol, nadar.
Passar off, coçar as picadas.
E também:


Calle Junin, Buenos Aires.


Tem que ir pro aeroporto, pegar fila, fazer check-in.
Comer comida de avião, aguentar atrasos e turbulências.
Passar calor.
Pagar caro.
Andar de táxi.
Andar.
Passear.
Visitar velhos amigos.
Almoçar, jantar, comer.
Comer, comer, comer.
Ver a família, se emocionar.
Entender a si próprio.

E tem que voltar, pelo caminho inverso.

Mas vou falar de comida. Vamos aos destaques.

Paraty-mirim é uma vilinha de pescadores perto de Paraty.
A praia é rústica, não tem comércio, a região é linda.
Ilhas, mato, mar verdinho muito calmo e transparente.
Gostei muito de um PF que comi na praia da Trindade antes do natal (depois ficou impossível). O peixe frito, sequinho, em postas grandes era uma coisa dos Deuses.
Sabe quando tem salsinha e alho no ovo em que o peixe é mergulhado antes de passar na farinha e fritar?

Não gostei nada de um PF que comi na praia (linda porém cheia de campings farofeiros) de Cambury - Ubatuba (não confundir com Camburi, mais ao sul no município de São Sebastião). Batatas num tom marrom escuro, molhadas de óleo, caras e mal servidas. Peixe magro e espinhoso. Arroz requentado com muita água, feijão sem gosto.

Amei o PF do Orlando, pastor evangélico muito carismático na praia/ilha do Cruzeiro. Especialmente a lula àdorei. E o que era aquela praia? Muito boas também as porções do Wilson no canto esquerdo da praia da vila, boas e pequenininhas.

Além disso teve um ceviche de aniversário muito bom, feito com badejo fresquíssimo e servido com alface, cebola, grãos de milho cozidos e batata doce. E no reveilllon uma mesa serve-serve de temaki com salmão, bardana, omeletinho japonês, manga, abacate e essas coisas boas da vida. Fogos de artificio belos e assustadores (principalmente aqueles que vinham da usina nuclear de Angra...), sub-graves ecoando na bahia calma, champagne gelado, vista pro mar, gente querida. DJ indeciso, sono e um bote com vazamento para voltar pra casa. Toda uma aventura.

A alimentação foi basicamente peixe, peixe, peixe, achei que fossem nascer escamas em mim. Peixe intercalado de algumas outras delicias (quiche de queijos, arroz com frango, macarrão, muita salada, churrasquinhos) e oportuníssimas linguiças com pão e um surpreendente vinagrete, vorazmente ingeridas depois de um dia intenso de praia. Não posso esquecer d'O Bolo de Chocolate dos Meus Sonhos. Como bebida, muito chardonnay, coca-cola, água de coco e alguns tintos frescos.

...

Em seguida, num outro planeta, as delicias de Buenos Aires.
Sempre que vou me encanto com a comida e como demais.
No quarto dia não posso mais ver carne e mesmo assim, continuo.
Mas a vida por lá está muito cara.
Os itens historicamente caros como cafezinho ou suco de laranja estão agora extrapolados.
Eu portenha, sofri como um turista as contradições da cidade:
Asado de tira, salada, batata frita: 15 pesos.
Café com leite, 2 medialunas: 15 pesos.
Alguém pode me explicar como é possível?

Apesar dos preços, delícias.
Adoro o café de lá, que deve ser brasileiro, mas é servido um pouco mais fraco.
Adoro o leite e o iogurte. Amo um leite chocolatado da minha infância da marca "Cindor".
A queda da promessa foi vê-lo em embalagem tetra-pack e com a marca Nestlè. Mas o sabor é quase igual. Fui ao mítico café Tortoni mas não tinham mais churros. Outra decepção.
O sanduiche de lomito do "La Rambla" continua imbatível. Lomito é a melhor carne do planeta. Imagina um filé mignon, só que mais macio, mais gostoso e com aquela casca pretinha das brasas. Empanadas saborosas de humita (milho) na casa da vovó, mas compradas numa ótima rotisería. Matambrito tiernizado (espécie de fraldinha, muito macia e com uma fina camada de gordura torradinha). As espetaculares beringelas de minha cunhada turca. Medias lunas, tostados, pomelo, pastel de papas. Tudo muito bom.
Comer em Buenos Aires é uma delicia que engorda.

E agora, de volta à padaria Letícia, ao sacolão e aos bares/restaurantes da Vila Madalena. Batizei a chegada com o arrumadinho do Canto Madalena, e de quebra encontrei por acaso amigos queridos de quem tinha saudade.

É bom ir, é bom voltar, é bom ir de novo.

MK, janeiro de 2009