terça-feira, 7 de abril de 2009

Ritual acolhedor.

O exército de Dionísio.



Poucos dias antes do tão esperado dia, já comentavamos: é tão bom quando um músico além de ser músico faz outras coisas, tem outras vocações, outros focos de interesse, outros assuntos. Se não fica aquela coisa de falar de equipamentos, da "gig", das sempre engraçadas anedotas de bastidores. Nada contra esses assuntos todos, que inclusive são parte integrante do meu musical dia-a-dia, mas é refrescante quebrar o mito de que músico não lê nem alonga (eu inventei esse mito), nem fala de outra coisa que não seja música.

E foi um amigo músico que fez o convite: uma degustação de vinhos e massas, informal, com gente legal que se conhece ou não, em clima de conversa descontraida. Então eu pensei "mas que vinhos são esses?". Vinhos argentinos? Ah, bom (olha o bairrismo). Degustação promovida pelas Bodegas Nieto Senetiner e conduzida pelo Sérgio, meu amigo.

Tudo começou com um espumante muito gostoso, tomado no pátio interno, sentados em móveis rústicos de madeira. A sommelier da casa perto da gente, nos dando dados importantes sem aquele ar de conhecimento exclusivo. La champagna era bem seca e estava bem gelada. Me lembrou os cavas espanhóis. O Sérgio foi nos dando detalhes sobre a bebida e explicando essa idéia de divulgar uma marca no boca-a-boca, coisa que eu achei muito legal, porque cria a oportunidade de pessoas sem conhecimento técnico poderem apreciar os vinhos, descifrar suas características e reconhecer suas qualidades. E o mais importante: poder refinar nossos critérios, adquirir referências e derrubar inverdades sobre o tema. O espumante foi acompanhado de brusquetas de alho poró com queijo e tomate, quentinhas, trazidas por rapazes simpaticos vestidos de preto.

Então passamos para o salão de jantar geladinho, no CD player um tango instrumental, na mesa milhões de taças de cristal numeradas. As garrafas enfileiradas num canto da sala eram como um batalhão dionisíaco e eu me perguntava quais iam ser abatidas para nosso deleite.

Começamos com um vinho branco que me surpeendeu muito! Inclusive foi o que mais gostei na noite. Acho que eu estava com "boca" de vinho branco nesse dia. Era um vinho da linha Don Nicanor, delcioso! Tinha sabor de terraço com vista pro mar, brisa leve e porção de lula. Para acompanhar, desgustação simultânea de massas italianas Delverde, começando com o penne ao molho branco de queijos (quentinho, gostoso, com toque de noz moscada). Então descobri que é uma massa grano duro produzida dentro de um parque nacional e cuja secagem é feita ao sol em bandejas de cobre, pelo método tradicional (e não secagem à força como outras marcas por ai). Entre outras características, a homogeneidade do cozimento é notável. Eu só sei que era uma massa gostosa.



Massa artesanal e vinho branco espetacular.



Então vieram algumas variedades de Malbec (de diferentes anos e faixas de preço), todos muito bons. Surpreendentemente houve um consenso no grupo: o malbec que mais agradou foi o mais baratinho. Ótima noticia! Agora não lembro exatamente, mas acho teve também um syrah, de cor linda. Foi ótimo poder comparar a cor dos vinhos, alguns sangue, outros ferrugem, outros amora. Uma experiência sensorial. Então chegou uma massinha toda diferente, tipo a releitura de um parafuso, com molho fresco de tomates.



Parafuso revisitado.



E o ponto alto da noite foi o Bonarda Edição Limitada (a última garrafa oferecida). Como disse eu estava um pouco sem paladar pros tintos (apesar de ter provado todos), mas quando chegou esse rapaz de etiqueta dourada, me rendi. Descia como água. Melhor do que água. Descia redondo e acho que foi a única garrafa que bebemos até o fim.



Algumas garrafas mais tarde...



E assim fomos embora, entre risadas, conversas e combinação de futuros encontros. A platéia heterogênea já tinha ficado entrosada, graças ao vinho e seu ritual acolhedor. Adorei! Fiquei fã dos vinhos e aprendi um monte. Será que me convidam de novo?