Tem coisas que a gente repete uma e outra vez, porque simplesmente funcionam.
Será que isso nos torna eficientes ou acomodados?
Você descobre uma receita infalível (para qualquer coisa) e provavelmente não fica afim de mudar nada. Pra que mudar, se funciona?
Eu acredito em duas possibilidades, a conservadora, de não alterar uma receita se arriscando desnecessariamente e a do improviso, se faltar algum material ou se houver um desejo por ventos de mudança ou novas possibilidades.
Agora tenho forno, depois de 5 anos com um fogão defeituoso. Esteticamente ele era lindo, anos 70, mas a única vez que tentei usar o forno, labaredas assassinas ameaçaram minhas sobrancelhas. Saiu até fumacinha com cheiro de celulose. Lá ficou o fogão, de presente para uma creche espírita. E eu agora tenho um autêntico Dako, que é bom mesmo, a canção não mente. É o mais barato das lojas de eletrodomésticos, não é nada especial, mas funciona.
Aproveitando o enamoramento pelo forno comecei a assar coisas e voltei a um hábito que tinha na Argentina, o de fazer tortas salgadas. Só que lá a gente compra massa folhada pronta "La Salteña" (a mesma marca da massa de empanadas), e nem pensa em fazer a massa em casa, porque a que a gente acha no supermercado funciona. Mas na falta do produto pronto, resolvi botar a mão na massa. Perguntei para a minha amiga conterrânea como fazer e ela me deu a receita de sua mãe, eximia cozinheira.
"Prestá atención, es muy simple, y no falla!"
200g de farinha de trigo, 100g de manteiga. Mistura com as mãos. Vai virar um farelo úmido. 5 colheres de sopa de água gelada (gelada é importante). Sal, e se quiser, alguma erva (coloco alecrim sempre). Amassa, faz uma bola, deixa descansar na geladeira (ou não). Estica (eu uso uma garrafa de vinho argentino vazia), coloca na assadeira, fura com o garfo, assa uns 10-15 minutos, coloca o recheio e assa a torta até o ponto desejado.
Pronto. Muito simples e prático.
Fiz duas, a primeria com recheio meio provençal: abobrinha, beringela, cebola e tomate refogados com queijo cottage e ovo para dar a liga. Ficou boa, mas era pouco recheio, ficou magrinha e um pouquinho ressecada. Não tinha garrafa de vinho vazia, estiquei direto na assadeira, qual massa podre.
Torta provençal.
Na segunda já comecei a improvisar. Faltou manteiga, coloquei azeite, não medi a água, pus no olhômetro e a massa ficou mais fácil de esticar. Matei o resto da garrafa de Malbec e usei para esticar, ficou mais fina, leve e homogênea. Como recheio só alho porró, refogado e misturado com ovo, creme de leite, temperos e parmesão. Delicia total. Comi três dias, não sobrou nem a foto.
Isso confirma minha teoria inicial. Palmas para as coisas que funcionam, elas são ferramentas, estão ai para nos amparar, facilitar a vida, nos dar uma sensação de segurança. Mas se você quer descobrir algo novo, vai ter que se arriscar, e talvez dê tudo errado.
MK, matando a torta.